7.20.2005

BLAME CANADA



Ben Neville é canadiano, mais um, de Vancouver (terra dos X-Files) e alinha pela Telegraph Records, editora dedicada à electrónica-tecno-house-minimalista-mas-não-só (dizer de um fôlego, todos os dias, depois das refeições) que conta com o concurso de artistas como Akufen, Ricardo Villalobos ou Mathew Dear. São estas as cordenadas, e o imaginário electrónico, com que poderão contar em “Joseki”, o disco de estreia do compatriota de Marc Leclair, Mocky, Tiga, Gonzales, Peaches, Brian Adams ou aquela senhora que cantava a música do Titanic. Mas há vários pormenores distintivos que fazem deste álbum uma agradável surpresa.
A saber, o lado mais fisico e quase festivo da música, a contrariar o ensimesmamento intelectualizado da praxe (e nós somos contra a praxe, ainda que a favor da praxis), com a manipulação dos sons e das batidas a revelarem, ou insinuarem, uma faceta lúdica bastante imagética acoplada à vertigem e ao groove do já famoso universo da música Koniec — neologismo de criação idiossincrática que pretende designar a música para animação radical de leste da escola epicurista (ao contrário do que muitos detractores veiculam) de Vasco Granja, e respectivas ramificações professadas na Cornualha (ver James, Vibert, Paradinas) — impregnada de jazz-funk da old school fusionista e sustentada por uma dinámica de lógica progressista, com alternância de elementos sonoros à laia de dança, suspensões e mudanças de ritmos, criação de ambientes de tensão/libertação. Faz-se a ponte entre a dança horizontal e o orgasmo vertical, em banda sonora acessível e fresca, como gotejar espeleológico em dia canicular, para consumo familiar, com Kraftwerk, Moodyman, Soulcenter, Herbert e murmúrios à mistura.
Enquanto ouvíamos o disco, em tempo real, fomos várias vezes assaltados pelo fantasma coreográfico de António Olaio, enquanto vocalista dos Repórter Estrábico, e a pensar como esta música é excelente para sublinhar quaisquer tipo de imagens sem ser excessivamente wallpapper-iano.