8.22.2005

JAMES, O MEU CORDIAL


Acabei de ouvir "Multiply" de Jamie Lidell e pensei com os meus botões, em tempos de feixe éclaire, por que não? Daqui a pouco vou tocar o tema e insistir em Jamie Lidell, absolutamente indispensável e ideal pedra de gelo toque na derrocada do calor ou do frio, depende... o homem começou por ser estranho mas já antes disso usava óculos bastante graduados. Uma questão de necessidade, mas também de estilo, a denotar uma certa propensão pela disciplina militar. Seria abusivo dizer que gostava de fardas, mas o caos desorganizado em que capotava pedia um terra à vista, fosse ele qual fosse. Começou, então, por ser mais um tipo estranho e obscuro numa editora marginal e maldita, a Warp. Agora arrisca-se, e a Warp também, a transformar-se num inesperado sucesso. Conseguirá o pequeno James conviver com este aparente paradoxo? E os seus fãs, transformarão a co-habitação e a antiga prática de boa vizinhança e troca de pacotinhos de açucar e chá em algo de insustentável e equivalente a, digamos ... (preencha a gosto e envie a todos os amigos que tem na cadeia)?
Depois do novo "Multiply", o antigo agente provocador ao serviço da electrónica radical, desnuda a alma e revela-se como um soul man capaz de fazer as delícias dos segyidores de Otis Redding, Marvin Gaye, Stevie Wonder e Sly Stone, ao mesmo tempo que é comparado a D'Angelo e até aos Jamiroquai. E isso será bom, perguntam vós?
Bem, é tudo uma questão de gosto mas ouvir os discos também ajuda, tendo em conta que o mundo não é nem uma bola de algodão nem feito de MP3.
Tudo arranjado e subtilmente torcido por uma estrutura musical que assenta que nem uma luva na voz quente, cheia e expressiva de Lidell, mas que apesar do apelo pop e química imediata não se verga a quaisquer tipo de cânones do "mainstream" (até porque há algumas excepções à estética soulfoul dominante...), continuando ( como nos filmes de terror, há sempre uma centelha de mal que nunca se extingue...) a assumir a necessidade de inventar e surpreender, ainda que mais subtilmente. Assim como quem não quer a coisa, o disco cresce e torna-se fantástico, o que poderá espantar apenas quem não ouviu com atenção o último álbum de Supercollider, (projecto de parceria com Christian Vogel) "Rise Robots Rise" ( e pouca gente o terá ouvido), ou não reparou que no melhor da aventura jazzística da Mathew Herbert's Big Band constava o aviso cantado por J.L, "Everything Changed". Além disso, o homem foi capa da Wire!