9.29.2005

FFD



FAT FREDDYS DROP
BASED ON A TRUE STORY


Tudo começou com “Midnight Marauders”, uma canção envolvente e viciante, uma mistura feliz de reggae/dub com pop e talvez morna a aquecer o corpo e a elevar o espírito ao sabor da voz doce e lânguida de Joe Dukie. A música, essa, tinha como obreiro DJ Fitchie. Uma dupla neo-zelândesa desconhecida, alegadamente descoberta por Recloose (discípulo de Carl Craig e autor do obrigatório e desafiante, ainda que difícil, “Cardiology”) e revelada ao mundo pela Sonar Kollektiv. Podiam simplesmente tratar-se de “one hit wonders”, uma categoria de artistas que é capaz de escrever uma canção de sucesso ou apenas uma canção interessante, e depois desaparecer... mas não, não se tratava de fogo-fátuo e a chama criativa voltou a acender-se com “This Room”, com propriedades medicinais equivalentes ao debute.
Dallas Tamaira e Chris Faimumu, é o que consta no registo civil de Dukie and Fitchie, afinal andavam com banda às costas e também assinavam como Fat Freddys Drop. Deram-nos “Hope” como cartão de visita e provas de que a sua música era capaz de voar em palco. No espaço aéreo internacional, a música dos FFD foi ganhando asas e a emblemática voz de Joe Duckie serviu também esses propósitos em colaborações dispersas com Clara Hill, Boozoo Bajou, Recloose, Dutch Thythm Combo...
Chegou agora, foi mesmo há bocado, o álbum de estreia dos Dukie&Fitchie&Friends, intitulado “Based On A True Story”, e confirmam-se as expectativas de várias “wonders” e mais alguns “hits”, para além dos já citados. A música é simples e o desenvolvimento das canções, estruturadas em manobras de reggae/dub/ska pop, faz-se como se tivessem todo o tempo do mundo. Gota a gota, seguem o ritual de um bom vinho. Decantam no leitor de cds, respiram, espraiam-se em vários sentidos, ganham corpo e aromas, entre incursões africanas, pela electrónica e secção de metais resplandecentes arraçados de filarmónica marchante de New Orleans, e quiça bafejadas pelo toque Maori, e elevam o estado de espírito e alma que arrepiam na voz de Fitchie para um patamar mais festivo e vibrante, onde as dinâmicas instrumentais e vocais são capazes de manter o corpo em balanço permanente e a curiosidade estimulada para o que virá a seguir. As canções deslizam e o disco também. Na terra natal, a nova-zelândia, a mesma de Nathan Haines, Mark de Clive Lowe ou Salmonella Dub, chegaram ao primeiro lugar do top de vendas e estão à beira da platina. São isto, amigos ouvintes, os antípodas... Em forma de banda sonora obrigatória para a ressaca de Verão até porque eles, tal como nós, fazem-no por amor à música.